Tive uma vida muito útil e prazerosa. Presenciei tantas alegrias que, de tão intensas, me contagiaram. Convivi com momentos de extrema felicidade, de realizações de sonhos, promessas de amores incondicionais, de paixões arrebatadoras. Mas também, não posso negar, vi algumas cenas tristes, de grande amargura, melancolia, solidão e até quase desespero.
E, dessa convivência, restou uma grande experiência que, como tantas outras, deixou marcas – mais ou menos visíveis, e que estão estampadas em mim, como acontece com todas as pessoas, com o passar dos anos.
E a somatória de tudo isso é o que traduz a minha personalidade. Sou atual, posso ter várias utilidades, posso ser formal ou casual, simples ou sofisticada, flexível e moldável, dependendo do lugar e situação. Sem falsa modéstia, sou polivalente e multifuncional.
E eis que, de repente me vejo cercada de um pó, misturado a uma espécie de umidade que me corrói – por dentro e por fora, fazendo de mim quase que um viveiro de ácaros e outras tantas bactérias, que jamais imaginei que existisse neste planeta que habito.
As pessoas que me rodeavam já não estão mais por perto, meus pés estão espremidos entre uma espécie de parede ou coisa parecida, e um teto, que mais parece o mapa do inferno, de tantas ranhuras e sujeiras que vejo. Não sei nem se estou de cabeça pra cima ou pra baixo. É a treva!
O fato é que me abandonaram, ou pior, me trancafiaram numa espécie de exílio, onde não posso mais compartilhar bons nem maus momentos com ninguém, porque simplesmente me tiraram o direito de estar presente no mundo onde as coisas acontecem, vivem.
A tristeza invadiu a minha alma, já nem sei mais qual minha utilidade – e só de vez em quando me lembro da minha serventia, quando faço força, como há pouco. E nesses momentos, fico ainda mais triste, deprimida, melancólica, vazia.
Mas, hoje, por um acaso, trouxeram um entulho que foi depositado ao meu lado, e pude ler uma notícia que me encheu de esperança e de alegria. Eu estava salva!
Descobri que poderia haver uma sobrevida útil pra mim, talvez até mais interessante do que a minha primeira vivência, onde eu poderia utilizar tudo que passei e aprendi, sem nenhuma restrição nem motivo de me envergonhar pela minha idade. Ao contrário – poderia até tirar vantagem disso, e me repaginar, reinventar, reviver. E, desta forma, ter novas experiências, nova emoções, nova vida.
Descobri que existe a Placet Outlet.